Cada vez se fala mais de energia nuclear, por todo o lado e também aqui. O nuclear, que é uma tecnologia muito segura, tem uma grande vantagem relativamente às centrais térmicas: não emite o dióxido carbono que causa o efeito estufa. Poderá haver razões, económicas ou outras, para não construirmos uma central nuclear, mas o pior que poderíamos fazer era dizer à partida que não. É necessário discutir até chegar a uma resposta bem informada. As centrais nucleares funcionam bem em muitos países do mundo. E nós importamos energia de Espanha e França, que é, em larga medida, nuclear.
Eu sei que me podem falar de Chernobyl. De facto, Chernobyl foi um acidente perigoso e lamentável. Mas não morreram milhões de pessoas... O governo ucraniano exagerou com o objectivo de ser compensado. Dizer-se que, por causa de Chernobyl, não devemos ter energia nuclear é a mesma coisa que dizer que, por causa de um erro clínico, não devemos ir a um hospital. Na questão do nuclear o perigo maior não é o de um acidente (que, apesar de raro, pode também ocorrer numa barragem): é o dos resíduos radioactivos, porque ainda não há um meio que seja absolutamente eficaz para os tratar. É um mau legado para o futuro, porque, embora esse lixo seja enterrado em lugares remotos e a grande profundidade, continuará a emitir radioactividade por longos anos.
Há um medo do público relativamente ao nuclear, talvez por a radiação ser invisível. Contudo, as pessoas que moram em zonas graníticas estão sujeitas permanentemente a essa radiação. Temos medo do que não devíamos ter e não temos medo do que devíamos ter. Há coisas de que devíamos ter mais medo porque são bem mais perigosas, como, por exemplo, a circulação automóvel.
Agora há muitos investimentos em centrais eólicas e solares. Muito bem. São tecnologias em desenvolvimento, mas não se prevê que, a curto prazo, proporcionem uma solução barata às nossas enormes necessidades energéticas. Temos de investir nas energias alternativas, mas não é viável desistir das centrais convencionais, sejam elas térmicas ou nucleares.
CARLOS FIOLHAIS