Filosofia na Escola Secundária Jaime Moniz - Funchal

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Crónica de J. Norberto Pires, publicada no "Jornal de Notícias" de 5 de Outubro:

 
Vivemos depressa. Muito depressa. E não sabemos bem porquê. Tem de ser; é assim a vida, justificamos. Não há tempo para nada, é preciso despachar mecanicamente, automaticamente, aquilo que dizemos que fazemos. Reflectir não é grande ideia. Faz perder tempo, e isso é coisa que não temos. O melhor é andar depressa, muito depressa, pelo menos mais depressa que os outros. Mas, como o Coelho Branco da Alice, parecemos sempre atrasados para alguma coisa. Não sabemos bem é para o quê. E parece que isso não nos incomoda.

Nesta lógica, investir no “Magalhães” é uma boa ideia. As crianças habituam-se rápido a viver depressa, sem se deslocar, e sem precisar de contacto físico. A Internet resolve. Está tudo, mas mesmo tudo, à distância de umas teclas. Até pesquisar, estudar, é tão simples como “clique”, “Google”, “palavra-chave”, “copy and paste”, e pronto. E, como dizia o Calvin, podemos fazer um brilharete com umas capinhas de plástico. Muito profissional.

Só que essa é uma escola sem futuro. E é disso que falamos quando falamos de livros e de leitura. A escola com futuro coloca o foco nos livros, na aprendizagem com reflexão, que é um método que a leitura incentiva e desenvolve. Com o tempo que as coisas naturalmente levam, com detalhes, ao pormenor. Uma educação feita assim é uma vela impressionante que nos permite navegar pela vida fora com a confiança de quem não desiste.

Como o velho Santiago, que não pescava um simples peixe há 84 dias, mas tinha nos magníficos olhos azuis o brilho de querer apanhar o maior peixe da sua vida. Mesmo muito cansado, com um barco a cair de podre, e a vela remendada. E conseguiu, ganhando de novo o respeito de todos. E nós viajamos a Cuba com ele.

Ou ainda como o Principezinho que um dia saiu do seu pequeno planeta cheio de flores e vulcões extintos, para viajar por sete planetas e descobrir que afinal mais importante do que navegar, ver e desvendar novas realidades, é importante descobrir o valor das coisas e das pessoas, e que isso exige tempo. Tempo para ler.

Evitando ser como a Alice, que não sabia para onde ir; se haveria de virar à esquerda, ou à direita, ou pura e simplesmente seguir em frente. Assim, como muito bem notou o Gato, não importa que direcção tomar se não se faz a mínima ideia para onde se quer ir. Chega-se sempre a qualquer lado, seja qual for a direcção escolhida. Depressa ou devagar, não importa. Existe sempre um destino, seja ele o do Gato Chapeleiro ou o da Lebre Marciana.

- Mas eu não quero ir para o meio de gente maluca, dizia a Alice.

Vai uma aposta que com o andar das coisas não podes evitar isso?

J. Norberto Pires 

 

in De Rerum Natura

publicado por Horacio@Freitas às 12:06

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