Filosofia na Escola Secundária Jaime Moniz - Funchal

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Nov 07

Filosofia 10.º ano

a priori / a posteriori Conhecemos algo a priori quando o conhecemos sem recorrer à experiência. Por exemplo, para saber que a adição de 502 com 12 dá 514 não precisamos de recorrer à experiência. Mas para saber que a neve é branca temos de recorrer à experiência. Conhecemos algo a posteriori quando o conhecemos recorrendo à experiência.

abstracto Uma entidade sem localização espácio-temporal. "Abstracto" não quer dizer "vago e difícil de compreender".

absurdo 1. Uma frase declarativa sem valor de verdade (sem sentido). 2. Uma falsidade óbvia.

acção Acontecimento ao qual está associado um agente e acerca do qual é possível fazer uma descrição verdadeira que exiba a presença de uma intenção. Podemos distinguir o fazer do agir. Assim, será adequado dizer "as formigas estão a fazer um carreiro", mas não seria adequado dizer que esse "fazer um carreiro" é uma acção das formigas, já que o seu comportamento não resulta de quaisquer intenções.

acontecimento Ocorrência ou mudança no estado do mundo. Algo que sucede num determinado ponto do espaço e durante um certo período de tempo.

actos / omissões Distinção controversa que corresponde aproximadamente à diferença entre fazer algo e permitir que algo aconteça — por exemplo, entre matar e deixar morrer. Muitos deontologistas consideram esta distinção moralmente relevante e pensam, por exemplo, que em geral é mais grave matar do que deixar morrer. Os utilitaristas dos actos defendem que a distinção não tem uma importância moral fundamental. Pensam que, se as consequências de matar forem as mesmas do que as de deixar morrer, matar não é pior (nem melhor) que deixar morrer.

agente Aquele que age, aquele a quem é atribuída a acção.

agnóstico Aquele que suspende a crença em relação à existência de Deus: nem acredita que Deus existe nem que Deus não existe.

argumento a posteriori Um argumento em que pelo menos uma das suas premissas é a posteriori.

argumento a priori Um argumento em que todas as suas premissas são a priori.

argumento circular Argumento que pressupõe o que pretende demonstrar.

argumento cogente (ou bom) Um argumento sólido com premissas mais plausíveis do que a conclusão.

argumento Conjunto de proposições em que se pretende justificar ou defender uma delas, a conclusão, com base na outra ou nas outras, a que se chamam as premissas. Por exemplo: o aborto não é permissível (conclusão) porque a vida é sagrada (premissa).

argumento cosmológico Argumento que parte de uma característica particular do mundo para concluir que Deus existe — pois só a existência de Deus poderá explicar essa característica do mundo. O argumento estudado de S. Tomás de Aquino parte da premissa a posteriori de que tudo tem uma causa, para concluir que existe um ser (Deus) que é a causa de tudo.

argumento do desígnio Há dois tipos de argumentos do desígnio: 1) Baseados na ordem do mundo (nomológicos) e baseados na adequação das coisas a fins (teleológicos). O argumento estudado é um argumento teleológico, que se baseia numa analogia entre artefactos e o mundo para concluir que, tal como os artefactos têm um criador, também o mundo tem um criador: Deus.

argumento moral Na discussão sobre a existência de Deus, argumento que tem por base a ideia de que sem Deus a moral não é possível.

argumento ontológico Argumento a priori que parte da definição de "Deus" com o objectivo de estabelecer que Deus existe. O argumento estudado é o de S. Anselmo que parte da definição de "Deus" como aquele "ser maior do que o qual nada pode ser pensado" para concluir que Deus existe.

argumento por analogia Um argumento por analogia parte da comparação de duas coisas distintas; constatamos que são semelhantes em vários aspectos e concluímos que também são semelhantes em relação a outro aspecto. Por exemplo: Os seres humanos sentem dor quando são agredidos; os cães são como os seres humanos; logo, os cães também sentem dor quando são agredidos.

argumento sólido Um argumento válido com premissas verdadeiras.

ateu Aquele que acredita que Deus não existe.

autonomismo Em filosofia da arte é o nome dado à perspectiva segundo a qual o valor da arte é autónomo. De acordo com o autonomismo, a arte tem valor intrínseco.

autoridade O direito e o poder de dar ordens e de se fazer obedecer. Falar da autoridade do estado é falar do poder que o estado tem de interferir na vida dos seus cidadãos.

bem-estar O bem-estar de um indivíduo consiste naqueles aspectos da sua vida que a tornam boa para si.

bicondicional Uma proposição da forma "P se, e só se, Q".

cadeia causal Sequência encadeada de causas e efeitos.

caracterização A apresentação de informações importantes sobre a natureza de algo. Caracterizar a filosofia, por exemplo, é apresentar algumas das características importantes da filosofia.

cogência Um argumento é cogente (ou bom) quando é sólido e tem premissas mais plausíveis do que a conclusão.

cognitivismo estético Perspectiva filosófica acerca do valor da arte segundo a qual esta é valiosa porque proporciona conhecimento.

compatibilismo No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e o livre-arbítrio podem coexistir.

compatível / incompatível Um conjunto de estados de coisas é compatível quando todos os estados de coisas do conjunto podem ocorrer simultaneamente. E é incompatível quando não podem ocorrer simultaneamente. A compatibilidade / incompatibilidade é a contraparte metafísica das noções linguísticas de consistência / inconsistência.

conceito A noção filosófica de conceito é complexa, correspondendo aproximadamente aos conteúdos que constituem um pensamento. O pensamento de que Aristóteles é mortal, por exemplo, inclui os conceitos de Aristóteles e de mortalidade. Neste sentido do termo, praticamente qualquer palavra que faça parte de uma frase com sentido exprime um conceito. Gramaticalmente, contudo, e em termos mais tradicionais, um conceito é uma noção ou ideia geral. Neste caso, retomando o exemplo anterior, não se pode falar do conceito de Aristóteles, mas apenas do conceito de mortalidade. Neste sentido, só termos gerais, como "justiça", "vermelho" e "país" exprimem conceitos; termos como "Aristóteles", "Portugal" ou "Segunda Guerra Mundial" não exprimem conceitos.

conceito aberto Conceito cujas condições de aplicação estão constantemente sujeitas a correcção, de modo a alargar o seu uso a novos casos. Alguns filósofos pensam que o conceito de arte é aberto. Opõe-se a conceito fechado.

conclusão A proposição que se pretende provar, num argumento.

concreto Uma entidade com localização espácio-temporal. "Concreto" não quer dizer "com exactidão e fácil de compreender".

condição necessária G é uma condição necessária de F quando todos os F são G. Por exemplo, estar em Portugal é uma condição necessária para estar em Braga porque todas as pessoas que estão em Braga estão em Portugal. Q é uma condição necessária de P quando a condicional "Se P, então Q" é verdadeira.

condição suficiente F é uma condição suficiente de G quando todos os F são G. Por exemplo, estar em Braga é uma condição suficiente para estar em Portugal porque todas as pessoas que estão em Braga estão em Portugal. P é uma condição suficiente de Q quando a condicional "Se P, então Q" é verdadeira.

condicional Qualquer proposição da forma "Se P, então Q", ou formas análogas. Por exemplo, "Se Sócrates era ateniense, era grego".

consentimento tácito Acto de consentir ou aceitar algo sem o ter expressamente manifestado. Opõe-se a consentimento expresso. Por exemplo, quando se diz que quem cala consente, está-se a referir uma forma de consentimento tácito.

consequência O mesmo que conclusão.

consequencialismo Perspectiva que, na sua versão mais comum, nos diz que aquilo que devemos fazer é determinado unicamente pelo valor das consequências dos actos. Agir bem é assim fazer aquilo que tem melhores consequências.

consistência / inconsistência Um conjunto de proposições é consistente quando as proposições podem ser todas verdadeiras ao mesmo tempo — ainda que na realidade sejam todas falsas. Um conjunto de proposições é inconsistente quando as proposições não podem ser todas verdadeiras ao mesmo tempo. A consistência / inconsistência é a contraparte linguística das noções metafísicas de compatibilidade / incompatibilidade.

contra-argumento Um argumento que pretende refutar outro argumento.

contradição performativa Quando se afirma algo que é negado pelo acto de afirmar. Por exemplo, alguém que diga "Não estou a falar".

contradição Qualquer proposição da forma "P e não P", como "Sócrates era grego e não era grego".

contra-exemplo Um exemplo que refuta uma proposição universal. Por exemplo, a existência de um lisboeta infeliz refuta a proposição expressa pela frase "Todos os lisboetas são felizes".

contrato social Acordo original através do qual, segundo alguns filósofos, as pessoas aceitaram livremente submeter-se à autoridade do estado em troca de protecção.

contratualismo Em filosofia política chama-se contratualista a qualquer perspectiva que defenda que o estado tem origem num contrato social celebrado entre pessoas livres.

convencionalismo moral Perspectiva segundo a qual os factos morais são convenções instituídas por alguém. Tanto o relativismo moral como a teoria dos mandamentos divinos são teorias convencionalistas.

crente Aquele que acredita que Deus existe.

critério transubjectivo de valoração Critério para fazer juízos de valor que ultrapassa o ponto de vista de cada sujeito. Ao avaliarmos as coisas segundo critérios subjectivos, estamos a avaliá-las à luz dos nossos gostos e preferências pessoais. Para avaliar as coisas segundo critérios transubjectivos, devemos adoptar uma perspectiva imparcial. Pode-se dizer que tanto o utilitarismo como a ética kantiana nos propõem critérios transubjectivos de valoração.

crítica A avaliação cuidadosa da verdade de uma afirmação. Este sentido do termo não deve confundir-se com o sentido popular, em que "criticar" significa "dizer mal de algo ou alguém".

decadentismo Doutrina estética segundo a qual a arte está acima da moral, podendo mesmo ser imoral.

defesa do livre-arbítrio Resposta clássica ao problema do mal, segundo a qual Deus permite o mal para possibilitar um bem maior: a existência de livre-arbítrio.

definição A especificação da natureza de algo. Especificar a natureza de algo é dizer o que é esse algo. Por exemplo, podemos definir a água dizendo que é H2O. Mas nem todas as definições são explícitas, como neste exemplo. As definições podem também ser implícitas.

definição explícita Tipo de definição em que se recorre a condições necessárias e suficientes. Por exemplo, quando se define a água como H2O o que se quer realmente dizer é que ser H2O é uma condição necessária e suficiente para que algo seja água.

definição implícita Tipo de definição em que se recorre a exemplos ou ao uso. Por exemplo, podemos definir a água mostrando vários exemplos de porções de água dos rios, das garrafas, da chuva, etc. Ou podemos definir a noção de solteiro através do uso que fazemos da palavra "solteiro".

deontologia Quem defende uma ética deontológica acredita em restrições que nos proíbem de fazer certas coisas, como mentir ou matar, mesmo quando fazê-las teria melhores consequências.

determinismo Tese de que todos os acontecimentos estão causalmente determinados pelos acontecimentos anteriores e pelas leis da natureza.

determinismo radical No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não temos livre-arbítrio, porque tudo está determinado.

deus teísta O ser omnipotente (que pode fazer tudo: todo-poderoso), omnisciente (que sabe tudo), sumamente bom (moralmente perfeito), criador e que é uma pessoa (é um agente e não uma força da natureza).

deveres indirectos Dizer que os nossos deveres morais para com os animais ou o ambiente são apenas indirectos é afirmar que os animais ou o ambiente não são em si moralmente importantes. É errado fazer certas coisas aos animais ou ao ambiente, mas apenas porque fazê-las levar-nos-ia a prejudicar aqueles que têm realmente importância moral em si — os seres humanos.

dilema de Êutifron Dilema apresentado pela primeira vez por Platão no diálogo Êutifron. Este dilema é um argumento contra a teoria dos mandamentos divinos. Podemos introduzi-lo através de uma pergunta como esta, onde X é um acto como matar, roubar ou mentir: X é errado porque Deus pensa que X é errado ou Deus pensa que X errado porque X é errado? Se optarmos pela segunda hipótese, concluímos que a teoria dos mandamentos é falsa, porque estamos a presumir que certas coisas são erradas independentemente do que Deus pensa sobre elas. Se optarmos pela primeira hipótese, temos de concluir que se Deus considerasse bom fazer coisas como matar, roubar ou mentir, então seria bom fazer essas coisas. Esta hipótese implica implausivelmente que a ética é arbitrária.

dogma Uma afirmação cuja verdade se deseja que seja aceite sem qualquer avaliação cuidadosa quanto à sua verdade.

egoísmo normativo Perspectiva segundo a qual devemos agir unicamente em função do nosso interesse.

egoísmo psicológico Perspectiva segundo a qual agimos sempre unicamente em função daquilo que julgamos ser do nosso interesse.

emotivismo Teoria segundo a qual não há quaisquer factos morais. Assim, os juízos morais são apenas expressões dos sentimentos de aprovação ou reprovação de cada um, não tendo por isso valor de verdade.

entimema Argumento em que uma ou mais premissas não foram explicitamente apresentadas.

epistemologia Disciplina central da filosofia que estuda os problemas mais gerais do conhecimento, incluindo a sua natureza, limites e fontes. Por exemplo, o que é realmente o conhecimento? Será que sabemos realmente algo, ou é tudo uma ilusão?

especismo Discriminação baseada na espécie.

estado A entidade política formada por uma população e um território geridos por um governo com o poder de interferir no comportamento dos seus membros.

estado de natureza O estado anterior à existência de uma sociedade politicamente organizada. Para alguns filósofos existiu um estado de natureza antes de se ter constituído a sociedade civil.

estatuto moral Um indivíduo ou uma entidade tem estatuto moral se é moralmente importante em si. É quase consensual que as pessoas têm estatuto moral, mas discute-se se os animais não humanos, os embriões humanos ou o ambiente o têm. Na ética kantiana, afirma-se que só as pessoas, concebidas como agentes racionais e autónomos, têm estatuto moral. Os utilitaristas pensam que todos os seres sencientes, e não apenas as pessoas, têm estatuto moral.

esteticismo Perspectiva filosófica sobre a arte segundo a qual esta tem valor em si e não é um meio para fim algum. É também conhecida como teoria da arte pela arte.

ética Disciplina central da filosofia que estuda a natureza do pensamento ético (metaética), os fundamentos gerais (ética normativa) e os problemas concretos da vida ética (ética aplicada). Por exemplo, em metaética estuda-se o problema de saber se os juízos éticos são relativos à cultura em que vivemos; em ética normativa estuda-se o problema de saber o que é o bem último; e em ética aplicada estuda-se a questão de saber se os animais não humanos têm importância moral.

experiência estética Um tipo específico de experiência que alegadamente só as coisas belas e as obras de arte são capazes de provocar em quem as aprecia. Nem todos os filósofos concordam com a ideia de que há experiências especificamente estéticas.

experiência mental Quando fazemos experiências mentais imaginamos situações, por vezes muito fantasiosas e idealizadas, com o objectivo de percebermos melhor certos aspectos de uma questão. Tanto os cientistas como os filósofos recorrem frequentemente a experiências mentais para testar ou desenvolver teorias.

explicação de acções Explica-se uma acção mostrando as razões que o agente teve para a realizar. As razões do agente são as crenças e os desejos que motivaram ou causaram a acção.

expressão Em filosofia da arte, a transmissão ou comunicação de sentimentos ou emoções.

extensão / intensão A extensão de um conceito ou propriedade é as coisas a que um conceito ou propriedade se aplica. Por exemplo, a extensão de "vermelho" são todos os objectos vermelhos. A intensão de um conceito é a propriedade que determina a extensão do conceito. Assim, a intensão do conceito de vermelho é a propriedade da vermelhidão.

falácia Um argumento que parece cogente mas não é. Um argumento pode parecer cogente por parecer sólido sem o ser, ou por parecer válido sem o ser, ou por parecer que tem premissas mais plausíveis do que a conclusão quando não as tem.

fatalismo Tese de que alguns acontecimentos são inevitáveis, independentemente do que possamos decidir ou fazer.

Crença com elevado grau de convicção na verdade de uma afirmação, sem razões que estabeleçam a verdade dessa convicção

fideísmo Teoria segundo a qual as crenças religiosas se baseiam unicamente na fé e não na razão.

filosofia da religião Disciplina filosófica que estuda os problemas metafísicos, epistemológicos e lógicos levantados pela religião. Por exemplo, será que Deus existe? Será legítimo acreditar que Deus existe sem ter provas? Será a existência de Deus compatível com a existência do mal?

finalidade (de uma acção) A razão pela qual se faz algo.

finalidade instrumental (de uma acção) Algo que fazemos para obter outra coisa.

finalidade última (de uma acção) Algo que fazemos em função de si mesmo.

forma significante Segundo alguns filósofos é aquilo que existe nas obras de arte, e apenas nelas, que não pode ser alterado, simplificado ou adaptado sem perder o seu interesse e o seu significado. É a forma significante que, alegadamente, provoca em nós emoções estéticas.

frase Sequência de palavras que podemos usar para fazer uma asserção ou uma pergunta, fazer uma ameaça, dar uma ordem, exprimir um desejo, etc.

hedonismo Perspectiva segundo a qual só o prazer é intrinsecamente bom e só a dor é intrinsecamente má. Tudo o que resto tem valor apenas na medida em que contribui para aumentar o prazer ou para reduzir a dor.

imitação Uma forma particular de representação. A imitação pode ser uma pintura figurativa, um gesto ou um conjunto de sons semelhantes ao que está a ser imitado.

imparcialidade É quase consensual que o ponto de vista ético se caracteriza por uma certa imparcialidade formal: avaliar de forma similar actos similares. Tanto o utilitarismo como a ética kantiana vão além desta ideia de imparcialidade, mas de forma diferente. Os utilitaristas dos actos pensam que devemos dar a mesma importância ao bem-estar de todos os indivíduos. Os defensores da ética kantiana defendem que devemos tratar todas as pessoas como fins.

imperativo categórico Segundo Kant, é o único princípio fundamental da moralidade e pode ser conhecido a priori. Este princípio é um imperativo porque se nos apresenta como uma obrigação; é categórico porque tal obrigação não depende de quaisquer desejos específicos do agente. Kant formulou-o de maneiras muito diferentes, de tal forma que se questiona se as fórmulas exprimem efectivamente o mesmo princípio. A fórmula da lei universal diz-nos que devemos agir segundo máximas que possamos querer universalizar. A fórmula do fim em si diz-nos que devemos tratar as pessoas como fins em si, e nunca como meros meios.

implicação Uma proposição implica outra quando é impossível a primeira ser verdadeira e a segunda falsa.

incompatibilismo No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que o determinismo e o livre-arbítrio não podem coexistir. O libertismo e o determinismo radical são duas dessas teorias.

incompatível / compatível Um conjunto de estados de coisas é compatível quando todos os estados de coisas do conjunto podem ocorrer simultaneamente. E é incompatível quando não podem ocorrer simultaneamente. A compatibilidade / incompatibilidade é a contraparte metafísica das noções linguísticas de consistência / inconsistência.

inconsistência / consistência Um conjunto de proposições é consistente quando as proposições podem ser todas verdadeiras ao mesmo tempo — ainda que na realidade sejam todas falsas. Um conjunto de proposições é inconsistente quando as proposições não podem ser todas verdadeiras ao mesmo tempo. A consistência / inconsistência é a contraparte linguística das noções metafísicas de compatibilidade / incompatibilidade.

intenção Segundo diversos filósofos, as intenções de um agente reduzem-se às crenças e desejos que explicam a suas acções. Outros filósofos entendem as intenções como estados mentais distintos, que não são redutíveis a crenças e desejos.

intensão / extensão A extensão de um conceito ou propriedade é as coisas a que um conceito ou propriedade se aplica. Por exemplo, a extensão de "vermelho" são todos os objectos vermelhos. A intensão de um conceito é a propriedade que determina a extensão do conceito. Assim, a intensão do conceito de vermelho é a propriedade da vermelhidão.

interpretação Interpretar um texto (ou uma obra de arte, ou um olhar) é compreender o seu significado e a articulação entre os seus diferentes aspectos.

juízo de valor Quando fazemos um juízo de valor estamos a avaliar positiva ou negativamente alguma coisa. Quando fazemos um juízo de facto, pelo contrário, pretendemos apenas descrever alguma coisa.

juízo estético Diz-se que os juízos acerca da arte e da beleza são estéticos.

justiça como equidade A teoria da justiça de Rawls. Os princípios da justiça são aqueles que seriam escolhidos numa situação de equidade — a posição original. Segundo Rawls, esses princípios dizem-nos que todos devem ter a maior liberdade compatível com uma idêntica liberdade para todos, e que as desigualdades sociais e económicas são aceitáveis apenas na medida em que resultem de uma igualdade de oportunidades e beneficiem os mais desfavorecidos.

liberdade moral Há actos que são eticamente opcionais: não é errado realizá-los, mas também não é obrigatório fazê-lo. Temos a liberdade moral de os realizar ou de não o fazer. Uma das críticas ao utilitarismo dos actos é a de que esta teoria, como nos diz que temos sempre a obrigação de realizar os actos que maximizam o bem, quase nos priva da liberdade moral.

libertismo No debate sobre o livre-arbítrio, as teorias que defendem que não há determinismo porque temos livre-arbítrio.

livre-arbítrio Capacidade para decidir (arbitrar) em liberdade.

lógica O estudo da validade e cogência da argumentação.

má-fé Na filosofia de Sartre, o acto de auto-engano, que consiste em fingir, para nós próprios, que não somos livres.

mal moral O mal causado pelos seres humanos, deliberadamente ou por negligência; por exemplo, homicídios e guerras.

mal natural O mal resulta de fenómenos naturais; por exemplo, cheias e furacões.

máxima Na ética de Kant, as máximas são princípios que nos indicam o motivo dos agentes. Para Kant o valor moral de uma acção depende da máxima que lhe subjaz.

maximin Princípio de escolha a aplicar em situações de ignorância. Se um agente não sabe o que acontecerá efectivamente se cada uma das opções disponíveis se realizar, deverá escolher a opção que tem o melhor pior resultado possível.

metafísica Disciplina central da filosofia que estuda a natureza última dos aspectos mais gerais da realidade. Por exemplo, será que temos livre-arbítrio? O que é o tempo? O que há de comum a todos os objectos azuis?

moralismo Em filosofia da arte é o nome dado à perspectiva segundo a qual a arte tem uma função moral.

negação Operador de formação de frases que inverte o valor de verdade das proposições, exprimindo-se geralmente em português com a palavra "não", entre outras.

objectivismo estético Perspectiva estética que defende a existência de propriedades estéticas nos próprios objectos, as quais em nada dependem dos sentimentos das pessoas que os apreciam. De acordo com o objectivismo a beleza está nas próprias coisas, pelo que não depende das opiniões de cada um. Opõe-se ao subjectivismo estético.

objectivismo moral Teoria segundo a qual a ética é objectiva. Pensar que a ética é objectiva é presumir que há factos morais que não dependem da perspectiva de qualquer sujeito ou que, pelo menos, os juízos morais podem ser justificados de forma racional e imparcial.

ontologia Disciplina da metafísica que estuda o problema de saber que tipos mais gerais de coisas há. Por exemplo, será que há realmente proposições? Ou serão apenas entidades mentais ou linguísticas? Haverá universais, ou apenas há particulares?

ónus da prova Se é razoável presumir que uma certa afirmação é verdadeira, o ónus da prova cabe a quem pensa que é falsa. Dado que é razoável presumir que o Pai Natal não existe, a pessoa que pensa que existe é que tem de provar que tem razão e que nós estamos enganados.

padrão do gosto Critério geral que permite distinguir o bom do mau gosto e que se forma a partir da observação daquilo que ao longo dos tempos costuma agradar às pessoas de diferentes lugares. Noção introduzida por David Hume.

paradoxo de Epicuro Formulação clássica do problema do mal atribuída ao filósofo Epicuro: "Ou Deus quer impedir o mal e não pode, ou pode mas não quer. Se quer mas não pode, é impotente. Se pode, mas não quer, é malévolo. Mas se quer e pode, de onde vem então o mal?".

parcimónia Uma teoria parcimoniosa explica o que tem a explicar sem introduzir complicações desnecessárias. A parcimónia é uma virtude das teorias, mas não garante que estas sejam verdadeiras.

parecença familiar Semelhança entre certas coisas que nos permite estabelecer uma relação de familiaridade entre si. Alguns filósofos pensam que há conceitos, como os de jogo e de arte, que não podem ser definidos explicitamente, mas que podem ser correctamente aplicados graças à noção de parecenças familiares.

petição de princípio (petitio principii) Argumento que pressupõe o que pretende demonstrar.

posição original Na filosofia política de Rawls, é a situação imaginária em que as pessoas, estando sob um véu de ignorância que garante a sua imparcialidade, escolhem os princípios de justiça correctos.

preconceito Uma opinião ou crença a favor da qual não temos qualquer bom argumento e sobre a qual nunca pensámos seriamente.

premissa A proposição (ou proposições) que se usa num argumento para provar uma dada conclusão.

princípio da diferença O princípio mais discutido da teoria da justiça de Rawls. Diz-nos que as desigualdades económicas e sociais são aceitáveis apenas na medida em que contribuem para melhorar a situação dos mais desfavorecidos.

princípio da maior felicidade O princípio ético fundamental no utilitarismo de Mill. Diz-nos que uma acção é correcta na medida em que tende a resultar no prazer e na ausência de dor; errada quando na medida em que tem a tendência inversa.

princípio do duplo efeito Princípio defendido por alguns deontologistas. Diz-nos que é permissível produzir um mau efeito de modo a obter um bom efeito se, e apenas se, o mau efeito não é pretendido de forma alguma e é proporcional ao bom efeito.

problema do mal Problema de conciliar a existência do Deus teísta com o mal existente no mundo.

proposição particular Qualquer proposição que comece com o termo "Algum" ou análogo. Por exemplo, "Alguns lisboetas são felizes".

proposição O pensamento verdadeiro ou falso expresso por uma frase declarativa.

proposição universal Qualquer proposição que comece com o termo "Todo", "Nenhum" ou análogo. Por exemplo, "Todos os lisboetas são portugueses".

prossilogismo Quando temos silogismos em cadeia, é o silogismo cuja conclusão é usada como premissa do silogismo seguinte.

provabilismo Teoria segundo a qual só é legítimo acreditar naquilo a favor do qual temos provas suficientes. A defesa clássica desta teoria é da autoria de William K. Clifford.

raciocínio Conjunto de proposições em que se pretende justificar ou defender uma delas, a conclusão, com base na outra ou nas outras, a que se chamam as premissas. Por exemplo: o aborto não é permissível (conclusão) porque a vida é sagrada (premissa).

redução ao absurdo (reductio ad absurdum) Forma de argumentação na qual se parte da negação do que se quer provar. Mostrando que desse pressuposto se segue uma falsidade óbvia (um absurdo), ou uma inconsistência, conclui-se negando o ponto de partida.

refutação Refutar uma ideia é mostrar que essa ideia é falsa. Refuta-se um argumento mostrando que a conclusão é falsa, que as premissas são falsas ou que o argumento é inválido.

regressão infinita Quando se justifica A em termos de B, B em termos de C, C em termos de D, etc., sem que essa cadeia de justificações seja esclarecedora, estamos perante uma regressão infinita.

relativismo cultural Teoria segundo a qual todos os factos morais são relativos a sociedades particulares. Assim, os factos morais resultam daquilo que uma dada sociedade aprova ou reprova, que pode não ser aquilo que outra sociedade aprova ou reprova. Quando uma sociedade aprova uma prática (como o infanticídio, por exemplo) e outra a reprova, não se pode dizer que uma delas tenha razão e a outra não.

representação Uma coisa representa outra se está em vez dela. A representação tanto pode ser verbal (as palavras) como figurativa (uma pintura ou uma dança).

responsabilidade negativa Quem acredita na responsabilidade negativa pensa que somos responsáveis não só pelos acontecimentos que provocámos, mas também pelos acontecimentos cuja ocorrência não evitámos, quando o poderíamos ter feito. Se uma pessoa morrer quando poderíamos ter feito algo para evitar que ela morresse, ao nada fazermos para evitar tal coisa tornámo-nos responsáveis pela sua morte. Esta ideia costuma ser atribuída ao utilitarista dos actos, que afirma a irrelevância da distinção entre actos e omissões.

responsabilidade Um agente é responsável por uma acção quando faz sentido louvá-lo ou censurá-lo por essa acção.

restrições deontológicas Proibições morais de realizar certos tipos de actos, como matar, torturar, roubar ou mentir. Quem acredita em restrições pensa que, pelo menos como regra geral, actos como esses não podem ser realizados nem para benefício do agente, nem para maximizar imparcialmente bem. O defensor de restrições deontológicas acredita, por exemplo, que seria errado matar intencionalmente uma pessoa inocente de modo a salvar duas pessoas inocentes, ainda que esse resultado pudesse ser o melhor.

ruído Todos os aspectos que não têm relevância argumentativa num texto argumentativo (ou elocução oral).

senciência Um ser senciente é aquele que tem a capacidade de sentir dor ou prazer.

sociedade civil A sociedade politicamente organizada. É equivalente ao estado e distingue-se geralmente do que alguns filósofos designam por estado de natureza

solidez Um argumento é sólido quando tem premissas verdadeiras e é válido.

subjectivismo estético Perspectiva segundo a qual os juízos estéticos apenas descrevem sentimentos pessoais. De acordo com o subjectivismo estético a beleza não está nas coisas, mas nos sujeitos que as apreciam. Opõe-se ao objectivismo estético.

subjectivismo moral Teoria segundo a qual a ética é subjectiva. Para o subjectivista os factos morais dizem apenas respeito aos sentimentos de aprovação ou reprovação de cada um, e os juízos morais não fazem mais que descrever esses sentimentos pessoais.

sujeito de uma vida Segundo Tom Regan, todos os sujeitos de uma vida têm direitos morais invioláveis. Os sujeitos de uma vida têm uma vida mental rica e complexa, com memórias, desejos e laços afectivos, mas precisam de ser agentes racionais e autónomos. Assim, muitos animais não humanos, e também os seres humanos mentalmente deficientes, imaturos ou debilitados, são sujeitos de uma vida.

superrogação Quando realiza um acto superrogatório, o agente sacrifica o seu bem-estar de modo algo a beneficiar os outros, sem que tivesse a obrigação de o fazer. Assim, ao agir de forma superrogatória, o agente vai além do seu dever moral, o que é especialmente louvável. Por exemplo, arriscar a vida para salvar estranhos pode ser considerado um acto superrogatório.

teísmo A doutrina que defende a existência do Deus teísta.

teísta O defensor do teísmo.

teodiceia Explicação da razão pela qual Deus permite a existência de mal no mundo.

teologia natural Tentativa de justificar a crença na existência de Deus através de provas ou argumentos.

teoria dos mandamentos divinos Teoria segundo a qual os factos morais são instituídos por Deus (ou pelos deuses). Assim, é Deus quem determina o que está certo ou errado, e nós devemos agir de acordo com a vontade divina.

teoria Um conjunto articulado de proposições que pretende explicar um dado fenómeno ou estabelecer um dado resultado.

universalizabilidade Propriedade de ser universalizável. Os juízos morais são universalizáveis, o que significa, por exemplo, que se afirmamos que um certo acto é errado, temos de afirmar que qualquer outro acto semelhante nos aspectos relevantes também é errado.

utilitarismo das regras Para quem defende esta teoria, um acto permissível é aquele que está de acordo com as regras morais ideais. Essas regras são aquelas que, se fossem aceites pela grande maioria dos membros da sociedade, maximizariam o bem-estar. Assim, o utilitarista das regras avalia os actos particulares em termos da promoção do bem-estar, mas de forma indirecta.

utilitarismo dos actos A forma mais comum de utilitarismo, que avalia os actos particulares directamente em termos da promoção do bem-estar. Segundo o utilitarista dos actos, um acto permissível é aquele que maximiza imparcialmente o bem-estar.

validade Propriedade que os argumentos têm quando é impossível, ou muitíssimo improvável, que as suas premissas sejam verdadeiras e a sua conclusão falsa. As proposições não podem ser válidas nem inválidas, só os argumentos podem sê-lo. As proposições são verdadeiras ou falsas.

valor de verdade A verdade ou falsidade de uma proposição.

valor instrumental Uma coisa tem valor instrumental quando é um meio para um fim que se considera valioso. Opõe-se a valor intrínseco.

valor intrínseco Uma coisa tem valor intrínseco quando tem valor por si, independentemente dos benefícios que dela possamos obter. Opõe-se a valor instrumental.


© 2009 didáctica editora
publicado por Horacio@Freitas às 12:08

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