Considere-se, por exemplo, a actividade de se manter em boa forma física. Isto pode ser feito, primariamente, como um fim em si. Ou pode ser feito como um mero meio para a boa forma. Pergunte-se o seguinte: Quem estará em melhor forma física depois de cinco anos, a pessoa que se pune ao obrigar-se a ir correr todas as manhãs ou a pessoa que por gostar do acto físico de correr o faz com gosto todos os dias?
Se em todas as suas actividades aquilo em que se concentrar for o produto final - o livro lido, a bicicleta arranjada, o correio distribuído, o diploma da faculdade, o seu eu ideal - pode ter um breve momento de felicidade ao terminar algo, mas depois é, normalmente, tempo de começar outra coisa. Depois precipita-se para o próximo projecto, lutando consigo mesmo porque no fundo também não quer estar a fazer isso. Apenas quer tê-lo feito, tê-lo acabado.
Se estiver ligado ao processo, a maior recompensa não estará no seu fim. Estará no fazer. O fim pode até ter um aspecto triste, pois irá significar o fim de um certo processo. Para os autores deste livro, por exemplo, quando a última palavra estiver escrita, quando a versão final for enviada para o editor, haverá alegria. Mas também existirá tristeza, pois um processo que eles adoram terá terminado. Poderão existir outros livros, outros processos. Mas este processo em particular terá acabado para sempre.
O mesmo acontece com o processo de ser uma pessoa. Quando uma vida que foi boa está perto do seu término, existirá tristeza. Poderá também existir alegria pelo fim do processo. Poderão até existir outras vidas. Mas esta vida, este processo em particular, terá terminado para sempre.
A chave para o sucesso na vida consiste assim em ligarmo-nos não a um produto mas a um processo: em última análise, em ligar-se com o processo de ser você mesmo. Onde existir uma ligação genuína a um processo, existirá sucesso. O sucesso torna as nossas vidas ricas e cheias de significado. E onde há sucesso, no fim existirá também tristeza, pois faz parte da natureza de todos os processos mudarem, e ao mudarem terminam.
Daniel Kolak e Raymond Martin, Sabedoria sem respostas, trad. Célia Teixeira.