Hei-de viver para ver o verdadeiro amor.
Nada menos supérfluo do que ensinar as opções e os valores da liberdade se queremos educar seres humanos livres. Mas como falar de ética aos adolescentes, sem incorrer na simples crónica das ideias morais ou no doutrinamento casuístico sobre questões práticas? Pensado e escrito para ser lido por adolescentes, Ética para Um Jovem explica, numa linguagem clara, profunda e ao mesmo tempo divertida, do que trata a Ética e de como a podemos aplicar à nossa vida quotidiana para tentarmos viver da melhor maneira possível connosco e com os outros. Um livro que convida o leitor a reflectir e a colocar novas questões sobre a liberdade de escolha, a responsabilidade, o valor da amizade, o amor, o respeito, a posse, o poder. Com exemplos ilustrativos que vão dos clássicos gregos a Citizen Kane, cada capítulo finaliza com citações de escritores como Erich Fromm, Martin Buber, Daniel Defoe e Octavio Paz. Um livro indispensável tanto para jovens como para pais e professores.
Ética para um Jovem é um livro escrito em tom de conversa dum pai para o seu filho de 15 anos. É escrito numa linguagem clara e informal, fácil de apreender por um aluno do secundário. Apesar disso o livro aborda em profundidade questões essenciais da ética como valores, responsabilidade, liberdade, etc. O autor é Fernando Savater, professor catedrático de Ética na Universidade do País Basco. Editora: Dom Quixote
Na Alegoria da Caverna, Platão descreve um grupo de homens que vivem presos no fundo de uma caverna e que consideram reais as sombras projectadas na parede. Para eles, essas sombras são a realidade – a única realidade.
Platão termina a Alegoria dizendo que os prisioneiros são semelhantes a nós. Essa semelhança significa que nós muitas vezes também confundimos a aparência com a realidade e julgamos verdadeiro o que é falso. Não estamos presos por correntes metálicas como os prisioneiros descritos por Platão, mas por outro género de “correntes”, que não imobilizam o corpo mas sim a mente: preguiça, medo, vícios, falta de espírito crítico, etc.
Inspirando-se na Alegoria da Caverna, o artista brasileiro Maurício criou uma pequena banda desenhada ("As Sombras da Vida") em que compara os prisioneiros, que julgam as sombras reais, com as pessoas “viciadas” em televisão, que confundem as suas imagens com a vida. Como é evidente, não é a televisão em si que é uma “corrente” mas a atitude acrítica e passiva que muitas pessoas têm perante ela.
(Pode encontrar essa banda desenhada aqui: clique em Quadradinhos, depois em Histórias Seriadas e finalmente em Piteco: As Sombras da Vida).
A Surfista, fotografia de Gustavo Moreira Tavares (tirada daqui).
Os sofistas - pensadores gregos, cujos nomes mais conhecidos são Górgias e Protágoras – foram os primeiros a reflectir sobre o poder persuasivo da palavra. Foram também educadores: ensinavam aos cidadãos gregos a retórica, preparando-os assim para participar na vida política da polis.
No Fédon, Platão atribui, por intermédio de Sócrates, as seguintes características aos sofistas: “(…) é mesmo o filósofo que vos fala, aquele que ama o saber, e não um desses homens sem sombra de cultura, que amam apenas o triunfo das suas teses! Refiro-me aos que, em qualquer tipo de discussão, relegam para segundo plano a natureza real das questões a tratar, e se empenham exclusivamente em convencer os seus ouvintes das opiniões que eles mesmos sustentam (…).”
Destes pensadores, além das referências efectuadas por filósofos posteriores, não chegaram até nós mais do que fragmentos dos escritos originais. Como por exemplo este, da autoria de Górgias (séc. V a. C): “Nunca me falta assunto num discurso”.
A má fama, talvez injusta, que a palavra “sofista” adquiriu – sinónimo de manipulador, daquele que, numa discussão, não olha a meios para alcançar os seus fins – tem em Platão um dos seus principais responsáveis.
Do ponto de vista platónico, o sofista é, por oposição ao filósofo, aquele que pretende convencer o auditório, independentemente da verdade. Assim, em vez de procurar persuadir de forma racional e lógica, recorre a todo e qualquer tipo de subterfúgios. Se necessário utiliza argumentos intelectualmente desonestos, que nada têm a ver com a discussão do assunto em causa, como por exemplo o ataque às características pessoais do interlocutor, o apelo aos sentimentos do auditório, o uso de ameaças, a utilização da autoridade de forma ilegítima, entre muitos outros (designados em Filosofia por falácias informais).
Uma das principais objecções de Platão às ideias dos sofistas prende-se com o facto destes defenderem o relativismo (Protágoras afirmou “o homem é a medida de todas as coisas”). A ideia que a verdade depende do ponto de vista de cada um e, por isso, não existe uma verdade objectiva que possa ser partilhada por todos.
Platão, no diálogo intitulado Górgias, levanta algumas objecções à perspectiva relativista. Se fosse correcta, como se poderia distinguir o verdadeiro do falso? Que sentido faria as pessoas discutirem, se nenhuma opinião poderia ser considerada errada, por mais absurda que fosse? Se cada um possui a sua verdade para quê trocar argumentos? Que valor teria a procura do conhecimento?
Platão conclui que a troca de argumentos só faz sentido no pressuposto de que não estamos condenados ao domínio da subjectividade - não vivemos no reino das opiniões, argumentamos racionalmente para nos tentarmos aproximar da verdade.
Estas considerações vêm a propósito de notícias recentes relativas à vida política portuguesa: a apresentação das listas e dos programas eleitorais dos vários partidos. Percebi, de súbito, devido a este estímulo exterior, o significado de um erro cometido por alguns dos meus alunos ao escreverem surfista em vez de sofista.
Como é que se pode confundir a arte de bem falar com a arte de usar a prancha?
Uma forma possível de explicar este equívoco linguístico é: os sofistas ao abdicarem da procura da verdade e ao recorrem a qualquer meio para alcançar as suas conveniências pessoais – como frequentemente observamos entre os políticos – estão, tal como os surfistas, a cavalgar a onda.
Existem afinidades que nem sempre são evidentes…
Nota: A citação de Platão foi retirada do seu livro Fédon, Lisboa Editora, 1997, pág. 87.
Se inúmeras pessoas têm a experiência ou sensação de ser livres, então a crença no livre-arbítrio é verdadeira.
Ora, inúmeras pessoas têm a experiência ou sensação de ser livres.
Logo, a crença no livre-arbítrio é verdadeira.
Se não existisse livre-arbítrio, então não teria sentido responsabilizar as pessoas.
Mas tem sentido responsabilizar as pessoas.
Logo, existe livre-arbítrio.
“O impacto cultural da globalização foi alvo de muita atenção. Imagens, ideias, produtos e estilos disseminam-se hoje em dia pelo mundo inteiro de uma forma muito mais rápida. O comércio, as novas tecnologias de informação, os meios de comunicação internacionais e a migração global fomentaram um fluxo sem restrições de cultura que transpõe as fronteiras das diversas nações. Muitas pessoas defendem que vivemos hoje numa única ordem de informação – uma gigantesca rede mundial, onde a informação é partilhada rapidamente e em grande quantidade. (…)
Segundo estimativas, centenas de milhões de pessoas do mundo inteiro assistiram ao filme Titanic, em salas de cinema ou em vídeo. Estreado em 1997, o Titanic conta a história de um jovem casal que se apaixona a bordo do fatídico navio transoceânico, e é um dos filmes mais populares de sempre. O Titanic quebrou todos os records de bilheteira, acumulando mais de 1,8 mil milhões de dólares de receitas provenientes de salas de cinema em cinquenta e cinco países diferentes. Aquando da estreia do filme, formaram-se em muitos países filas de centenas de pessoas para comprar bilhete, e as sessões estavam permanentemente esgotadas (…)
O filme é um dos muitos produtos culturais que conseguiu quebrar as fronteiras nacionais e dar origem a um fenómeno de verdadeiras proporções internacionais. (…)
Uma razão que explica o sucesso de Titanic é o facto do filme reflectir um conjunto particular de ideias e valores com que as assistências pelo mundo fora conseguiam identificar-se. Uma das temáticas centrais do filme é a da possibilidade do amor romântico vencer as diferenças de classe social e as tradições familiares. Embora este ideal seja, de uma forma geral, aceite na maior parte dos países ocidentais, ainda não prevalece em muitas outras regiões do mundo. O sucesso de uma película como o Titanic reflecte a mudança de atitudes em relação a relacionamentos pessoais e casamentos, por exemplo, em partes do mundo onde os valores mais tradicionais têm prevalecido. No entanto, pode dizer-se que o Titanic, tal como muitos outros filmes ocidentais, contribui para essa mudança de valores. Os filmes e programas de televisão produzidos no Ocidente, que dominam os media mundiais, tendem a avançar uma série de agendas políticas, sociais e económicas que reflectem uma visão do mundo especificamente ocidental. Alguns preocupam-se com o facto da globalização estar a conduzir à criação de uma ‘cultura global’, em que os valores dos mais ricos e poderosos – neste caso, os estúdios de cinema de Hollywood – se sobrepõem à força dos hábitos e das tradições locais. De acordo com esta perspectiva, a globalização é uma forma de ‘imperialismo cultural’, em que os valores, os estilos e as perspectivas ocidentais são divulgados de um modo tão agressivo que suprimem as outras culturas nacionais.
Outros autores, pelo contrário, associaram os processos de globalização a uma crescente diferenciação no que diz respeito a formas e tradições culturais. Ao contrário dos que insistem no argumento da homogeneização cultural, estes autores afirmam que a sociedade global se caracteriza actualmente pela coexistência lado a lado de uma enorme diversidade de culturas. Às tradições locais, junta-se um conjunto de formas culturais adicionais provenientes do estrangeiro, presenteando as pessoas com um leque estonteante de opções de escolha de estilos de vida. Estaremos a assistir à fragmentação de formas culturais, e não à formação de uma cultura mundial unificada. As antigas identidades e modos de vida enraizados em culturas e em comunidades locais estão a dar lugar a novas formas de ‘identidade híbrida’, compostas por elementos de diferentes origens culturais. Deste modo, um cidadão negro e urbano da África do Sul actual pode permanecer fortemente influenciado pelas tradições e perspectivas culturais das suas raízes tribais, mas simultaneamente adoptar um gosto e um estilo de vida cosmopolitas – na roupa, no lazer, nos tempos livres, etc. – que resultam da globalização.”
Anthony Giddens, Sociologia, 5ª edição, F. C. Gulbenkian, 2007, Lisboa, pp. 64-65.
1. Descreva em poucas palavras a globalização cultural.
2. Dê exemplos ilustrativos da globalização cultural diferentes dos exemplos dados pelo autor.
3. Relacione a globalização cultural com a aculturação.
4. Relacione a distinção entre aculturação por assimilação e aculturação por destruição com a divergência entre os autores que defendem que a globalização cultural leva à homogeneização cultural e os autores que defendem que leva à diferenciação cultural.
5. Na sua opinião, quem tem razão nessa divergência. Porquê?
Os Valores: análise e compreensão da experiência valorativa.
1. O que são os valores e qual a sua utilidade.
2. Qualidades primárias, ideias e valores.
3. Juízos de facto e juízos de valor.
4. Características dos valores: polaridade, historicidade e hierarquização.
5. A taxinomia dos valores.
Aqui estão algumas preciosas orientações para a realização de trabalho escrito. Posteriormente serão seleccionados e publicados alguns trabalhos dos alunos.
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Elaboração de trabalhos escritos:
- Aqui está uma crónica que, apesar de ter sido escrita à distância de um ano, não consegue fazer-nos esquecer (nunca) a actualidade do tema.
Desidério Murcho Público, 15 de Julho de 2008 |
O ensino público português não está a cumprir o seu papel social de dar oportunidades aos estudantes oriundos de famílias culturalmente carenciadas. Isto acontece porque as políticas do Ministério da Educação têm tido o efeito de dificultar cada vez mais a aprendizagem desses estudantes. Vejamos porquê. A convicção que tem orientado as políticas educativas dos últimos anos é a seguinte: os estudantes culturalmente carenciados não são realmente ensináveis, nem podem ter qualquer interesse em física, medicina ou geografia, porque são cognitivamente deficientes: só os filhos das famílias culturalmente privilegiadas são ensináveis, porque não são cognitivamente deficientes, e por isso só eles podem ter interesse nas matérias "elitistas". Esta convicção não só é uma aberração biológica como põe o mundo de pernas para o ar: o elitismo é a crença de que a física quântica, por exemplo, ou o piano, é só para certos estudantes privilegiados, ao passo que para os outros só pode interessar o surf. Esta atitude é parecida com o racismo, porque, em vez de ver os estudantes individualmente como seres humanos, vê os estudantes apenas como membros de classes sociais, e presume que os estudantes culturalmente carenciados o são, não por serem vítimas da falta de oportunidades, mas por incapacidade cognitiva. |
Ao eliminar as disciplinas centrais das áreas académicas que constituem o legado da humanidade, substituindo-as por vacuidades escolares que visam aparentemente a integração social ou a educação para a cidadania, a escola pública faz o oposto: não permite que um estudante culturalmente carenciado possa tornar-se um cidadão pleno, porque não lhe dá as competências cognitivas relevantes, nem lhe ensina os conteúdos sem os quais só poderá ser um consumidor passivo da Coca-Cola, telenovelas e futebol. | |
| Ao tornar os exames cada vez mais fáceis, a escola pública prejudica exclusivamente os estudantes mais carenciados, pois está a dizer-lhes que não precisam de estrudar, ao mesmo tempo que aprofunda o fosso entre eles e os mais privilegiados, pois estes estudam em qualquer caso, com exames fáceis ou difíceis. O Ministério da Educação não consegue persuadir os estudantes mais carenciados do valor intrínseco do conhecimento, do estudo e da escola, porque considera que estes estudantes não têm capacidade cognitiva para valorizar tais coisas. Mas qualquer agência de publicidade conhece as técnicas básicas para criar nas pessoas apetência pelo que elas antes não valorizavam. Proponho por isso que se substitua o Ministério da Educação por uma agência de publicidade. Se é possível convencer os estudantes mais carenciados a valorizar inanidades como a Coca-Cola, os ténis Nike e os bonés americanos de basebol, tanto mais fácil será ensinar-lhes a valorizar o que realmente tem valor intrínseco: o legado cognitivo da humanidade, codificado em coisas como a matemática, a física ou a história. Desidério Murcho Universidade Federal de Ouro Preto |
Considere-se, por exemplo, a actividade de se manter em boa forma física. Isto pode ser feito, primariamente, como um fim em si. Ou pode ser feito como um mero meio para a boa forma. Pergunte-se o seguinte: Quem estará em melhor forma física depois de cinco anos, a pessoa que se pune ao obrigar-se a ir correr todas as manhãs ou a pessoa que por gostar do acto físico de correr o faz com gosto todos os dias?
Se em todas as suas actividades aquilo em que se concentrar for o produto final - o livro lido, a bicicleta arranjada, o correio distribuído, o diploma da faculdade, o seu eu ideal - pode ter um breve momento de felicidade ao terminar algo, mas depois é, normalmente, tempo de começar outra coisa. Depois precipita-se para o próximo projecto, lutando consigo mesmo porque no fundo também não quer estar a fazer isso. Apenas quer tê-lo feito, tê-lo acabado.
Se estiver ligado ao processo, a maior recompensa não estará no seu fim. Estará no fazer. O fim pode até ter um aspecto triste, pois irá significar o fim de um certo processo. Para os autores deste livro, por exemplo, quando a última palavra estiver escrita, quando a versão final for enviada para o editor, haverá alegria. Mas também existirá tristeza, pois um processo que eles adoram terá terminado. Poderão existir outros livros, outros processos. Mas este processo em particular terá acabado para sempre.
O mesmo acontece com o processo de ser uma pessoa. Quando uma vida que foi boa está perto do seu término, existirá tristeza. Poderá também existir alegria pelo fim do processo. Poderão até existir outras vidas. Mas esta vida, este processo em particular, terá terminado para sempre.
A chave para o sucesso na vida consiste assim em ligarmo-nos não a um produto mas a um processo: em última análise, em ligar-se com o processo de ser você mesmo. Onde existir uma ligação genuína a um processo, existirá sucesso. O sucesso torna as nossas vidas ricas e cheias de significado. E onde há sucesso, no fim existirá também tristeza, pois faz parte da natureza de todos os processos mudarem, e ao mudarem terminam.
Daniel Kolak e Raymond Martin, Sabedoria sem respostas, trad. Célia Teixeira.
Carl Sagan, Um mundo infestado de demónios, Gradiva, p.300
Almeida, Rolando in Filosofia no Ensino Secundário.
A Texto Editora acaba de lançar uma colecção para ajudar os estudantes a orientar o estudo. Um dos volumes da colecção é dos autores do manual Pensar Azul. Apresenta esquemas sínteses e explicações sumárias dos principais conteúdos. O livro é vendido a um preço baixo. Clicar na imagem para aceder.
Almeida, Rolando in Filosofia no Ensino Secundário.